23 de set. de 2006

Preparando as condições para o desastre - Caroline Glick

Resumo: Nenhum país do mundo permite que estranhos ditem suas políticas em questões fundamentais de segurança nacional. Israel não deve ser o primeiro a fazer isto.

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Na terça feira, o chefe do Shin Bet, Yuval Diskin, advertiu sobre as crescentes ameaças à segurança de Israel, que emanam da Faixa de Gaza e do norte de Samária, logo após a última guerra. Se as medidas adequadas não forem tomadas, para interromper as transferências maciças de modernos armamentos para Gaza, ele advertiu, em apenas alguns anos, a região se tornará um segundo sul do Líbano.

No próprio sul do Líbano, o Hezbollah está criando uma ilusão de cooperação com o exército libanês, de modo a nos deixar todos anestesiados, enquanto ele calmamente reconstrói suas forças, se antecipando a uma ordem iraniana para renovar a guerra contra Israel. As declarações do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, na semana passada, de que sua organização não tinha intenção de começar uma segunda guerra e que ele não imaginava de forma alguma que Israel responderia de forma tão intensa ao rapto de Ehud Goldwasser e Eldad Regev, em 12 de julho, objetivaram confundir Israel e acalmar o Líbano. Pelo menos no que se refere a Israel, o objetivo foi atingido. O Primeiro Ministro Ehud Olmert e a mídia israelense se agarraram às declarações de Nasrallah como uma "prova" de que Israel vencera a guerra.

Enquanto isso, a República dos Aiatolás está prosseguindo firmemente na direção de obter capacidades nucleares. As reações conciliatórias internacionais ao anúncio do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na quinta feira, de que o Irã rejeitava as exigências do Conselho de Segurança da ONU para que parasse com todo o enriquecimento de urânio, na verdade precederam a declaração insolente de Ahmadinejad. Na quarta feira, o chefe de política externa da UE, Javier Solana, já estava empenhado tentando renovar as conversas com o Irã.

Por enquanto, a ONU está se comportando não como uma polícia internacional, mas, ao contrário, como o advogado de defesa do Irã. Durante sua visita a Israel, na quarta feira, o Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, dava a impressão de ser um líder árabe, com suas condenações irrestritas e ofensivamente arrogantes de Israel, por cada ato de autodefesa que tenha tomado em Gaza e no Líbano, por um lado, e sua tolerância aparentemente infinita pelas ameaças iranianas de um genocídio nuclear contra Israel, por outro.

Durante sua coletiva de imprensa com Olmert, Annan sugeriu que, de sua perspectiva, o problema com as ameaças do Irã para aniquilar Israel não é porque elas são ilegais ou moralmente indesculpáveis. O motivo pelo qual as ameaças são erradas é simplesmente porque Israel é um membro da ONU. Surrealisticamente, ignorando tanto os esforços do Irã para adquirir bombas atômicas, quanto seu comando sobre as últimas guerras no Líbano e em Gaza, Annan declarou de modo bizarro, "Ninguém pode varrer Israel do mapa apenas com declarações".

Hoje, sem conhecimento do público israelense, o governo Olmert-Livni-Peretz está guiando Israel por um caminho que, se não for rapidamente abandonado, tornará nosso direito à autodefesa – e, por extensão, nossa independência – condicional. A proliferação de ameaças à segurança está ficando exacerbada pela facilitação do governo de uma oferta diplomática ONU-UE para retirar gradualmente o direito de Israel de se defender contra o Hezbollah, os palestinos e o Irã.

O presente perigo está enraizado no texto da Resolução do Conselho de Segurança da ONU 1701, que determina as diretrizes para o cessar fogo no Líbano. Aquela decisão constituiu uma vitória sem precedentes para o Hezbollah, por colocar a milícia ilegal, sub-nacional, jihadista, no mesmo patamar que Israel.

Além disso, a Resolução 1701 estabelece os termos para o reforço das forças da UNIFIL, de tal forma que permite que o Hezbollah continue a reforçar suas forças no sul do Líbano, ao mesmo tempo em que impede Israel de exercer seu direito de se defender contra a crescente ameaça.

A Resolução 1701 restringe a liberdade de ação de Israel de mais três formas. Primeiro, a resolução nomeia o advogado de Ahmadinejad, Kofi Annan, como árbitro do cumprimento da mesma por ambos os lados. Annan revelou como ele usará esta autoridade, duas semanas atrás, quando ele condenou a incursão do comando das FDI (Forças de Defesa de Israel) em Baalbek, já começando seus apelos a Israel para que suspendesse seu bloqueio aéreo e marítimo ao Líbano e assim permitisse que o Hezbollah se rearmasse, não somente por via terrestre, como também por vias aérea e marítima.

Segundo, embora Olmert e Livni ruidosamente defendam que as forças européias, que estão se posicionando no Líbano, são uma importante realização diplomática, o fato é que esta decisão de dar poder à UE para dominar a UNIFIL é desastrosa para Israel. Ao mesmo tempo em que declaram seu "amor" por Israel, os europeus não escondem o fato de que sua decisão de liderar a UNIFIL é motivada por sua intenção de evitar que Israel se defenda.

O Ministro das Relações Exteriores comunista da Itália, Massimo D'Alema, falou claramente sobre esta questão em sua entrevista, na última sexta feira, ao Ha'aretz. Ele explicou que o objetivo da UE no Líbano, é "provar a Israel que pode garantir melhor sua segurança através de políticas de paz do que através de guerras".

D'Alema então insultou os EUA, acrescentando, "A política americana, que Israel também apóia, criou uma situação impossível... O pensamento de que é possível controlar o mundo pelo poder de uma potência liberal hegemônica. Esta filosofia tem criado sérios estragos, e agora os EUA estão procurando uma saída racional".

Portanto, dispondo suas tropas junto com as da UNIFIL, os europeus nos demonstrarão que a única maneira de conter inimigos que queiram nos destruir é por apaziguamento e mais apaziguamento.

Os europeus e Annan, também não escondem o fato de que planejam usar este posicionamento no Líbano, como um trampolim, para conseguir maior influência sobre Israel, em suas negociações com os palestinos. Nesta linha de ação, D'Alema declarou, "Eu acho que se as coisas forem bem no Líbano, um processo positivo similar pode começar também na Faixa de Gaza: a soltura do [refém israelense Cabo Gilad] Shalit, um governo de unidade palestino, que atenda aos critérios estabelecidos pela comunidade internacional, e a presença de uma força da ONU, para dar suporte ao governo palestino".

Neste caso, a UE está abertamente unindo forças com os mentores de políticas esquerdistas radicais israelenses, liderados pelo líder do Meretz, membro da Knesset Yossi Beilin, que nos últimos dois anos tem disfarçadamente prosseguido com a idéia de internacionalizar o conflito. Após ambas as negociações de Israel e sua rendição unilateral de terra aos palestinos terem levado à guerra, o pensamento agora é que os palestinos aceitarão Israel depois que a ONU despir o estado judeu de sua capacidade de se defender.

Se o que está exposto acima for insuficiente para nos convencer de que a tropa da UNIFIL, cuja chegada é tão ansiosamente aguardada por Olmert-Livni-Peretz, não é uma coisa boa para Israel, tem ainda o elemento islâmico da tropa proposta. Tanto Annan quanto os europeus estão insistindo para que uma tropa, de até 7.000 soldados de países muçulmanos, seja incluída na tropa da UNIFIL. Estes soldados estão designados para serem enviados por Bangladesh, Indonésia, Malásia e Turquia. Todos estes países são normalmente citados como "países muçulmanos moderados". Esta afirmação dá margem a um questionamento.

O partido jihadista (que apóia a guerra santa islâmica), Jamaat-e-Islami, faz parte do governo de coalisão de Bangladesh. Seus ativistas estudantes recentemente mandaram ameaças de morte a dois importantes intelectuais por ensinar à juventude de seu país os valores do secularismo, da democracia e da ciência.

Além disso, em novembro de 2003, o jornalista bengalês Salah Uddin Shoaib Choudhury foi preso, enquanto ele esperava para embarcar em um vôo para Bangkok, com continuação para Tel Aviv. Choudhury, que ia participar de uma conferência em Israel, sobre como a mídia pode promover a paz, foi acusado de rebelião e de espionar para Israel. Durante os 17 meses que passou na prisão, ele foi repetidamente torturado. Bangladesh planeja enviar 2.000 soldados ao Líbano.

Então tem a Indonésia, o maior estado muçulmano. Como punição por incitar bombardeios terroristas em Bali, em 2002, que mataram 202 pessoas, o judiciário não especialmente independente da Indonésia sentenciou o líder do Jemaah Islamiyah, Abu Bakar Bashir, a 30 meses na prisão, sendo que os últimos cinco da pena foram comutados em junho.

Em maio, Ahmadinejad foi recebido por multidões rugindo durante uma visita a Jacarta. Em uma entrevista com o The Wall Street Journal, na terça feira, o Ministro da Defesa da Indonésia, Juwono Sudarsono, disse que ele acredita que a melhor maneira de manter o sul do Líbano seguro é ter as tropas do Hezbollah "absorvidas" pelo exército libanês.

Quando a guerra do Líbano ferveu, o governo da Malásia conclamou todas as nações do mundo a romper relações diplomáticas com Israel. Esta semana, autoridades importantes da Malásia disseram que não há justificativa para a oposição do ocidente ao programa nuclear do Irã.

De todos os países muçulmanos, que estão planejando contribuir com forças para a UNIFIL, a Turquia é a única que mantém relações diplomáticas com Israel. Deste modo, suas tropas são as únicas que o governo Olmert-Livni-Peretz estão querendo ver posicionadas no Líbano. Duas semanas atrás, durante uma visita com o Ministro das Relações Exteriores turco, Abdullah Gul, Olmert disse, "a Turquia desempenha um papel importante no Oriente Médio e vai continuar a fazê-lo". Ele acrescentou, "Israel confia na Turquia".

Embora até a formação do governo islâmico do AKP (N.T. Adalet ve Kalkinma Partisi, Partido da Justiça e do Desenvolvimento) em 2002, fizesse sentido para primeiros ministros israelenses dizerem tais coisas, hoje em dia, tais declarações são injustificadas. Durante os últimos quatro anos, a Turquia se transformou, de um firme aliado dos EUA e Israel, em um dos estados mais abertamente anti-americanos e anti-semitas do mundo. Pela mesma moeda, a Turquia fez todo o possível para aquecer suas relações com o mundo árabe e o Irã.

Durante a guerra, a inteligência militar das FDI (Forças de Defesa de Israel) descobriu que o Irã estava embarcando armas para o Hezbollah através da Turquia. Após a vitória eleitoral do Hamas em janeiro, o Primeiro Ministro da Turquia, Recip Erdogan, foi o primeiro líder internacional a recepcionar os líderes terroristas do Hamas em uma visita oficial. Durante a guerra, Erdogan anunciou o apoio da Turquia ao Hezbollah, dizendo que "ninguém deve esperar que sejamos neutros e imparciais".

De tudo isto, conclui-se que é evidente que a participação dos exércitos muçulmanos na tropa da UNIFIL – ainda que somente da Turquia – poderia facilmente levar a uma situação em que as FDI se encontrem lutando contra as forças da UNIFIL.

Alternativamente, como a ONU e a UE prevêem, intimidado pela "comunidade internacional", o governo Olmert-Livni-Peretz pode simplesmente abrir mão do direito de Israel à auto-defesa, apesar das crescentes ameaças do Hezbollah, dos palestinos e do Irã.

Quanto aos Estados Unidos, preocupantemente a administração Bush, da mesma forma que o governo Olmert-Livni-Peretz, está mostrando sinais agudos de colapso em sua política. Em uma mudança quase inexplicável, o Departamento de Estado emitiu um visto para o ex-presidente iraniano Muhammad Khatami. Indecentemente, o ex-líder e propagandista do regime para os Aiatolás supremacistas islâmicos, foi convidado para falar na Catedral Nacional em Washington.

Da mesma forma que fez no início da guerra no Líbano, o governo Olmert-Livni-Peretz estabeleceu os objetivos adequados para administrar o cessar fogo. Mas, da mesma forma que fez durante a guerra, ele continuou a tomar todas as medidas possíveis para garantir que estes objetivos não sejam alcançados.

Agora, a troika (N.T. termo russo, grupo de três membros agindo em uníssono para exercer influência, controle, etc.) espera que, através da UNIFIL, Israel irá rapidamente formar uma coalisão contra o Hezbollah, enquanto, na verdade, estará facilitando a formação de uma coalisão que protegerá o Hezbollah contra Israel. Eles falharam em reconhecer que, para garantir seus interesses de segurança nacional, Israel não necessita negociar, necessita agir. A única razão pela qual a UE e a ONU se sentem tão confortáveis dando ordens a Israel é porque o governo Olmert-Livni-Peretz as obedece.

As coisas não tem que ser desta forma. Nenhum país do mundo permite que estranhos ditem suas políticas em questões fundamentais de segurança nacional. Israel não deve ser o primeiro a fazer isto.

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