25 de ago. de 2006

O Falso Moralismo - por Ramiro Severo, no Diego Casagrande

Durante décadas, a esquerda arcaica se autoproclamou detentora exclusiva da ética e da razão. Peça a um marxista a definição de esquerda e direita, e ele dirá: “Os esquerdistas defendem os interesses do povo; os direitistas, os interesses da elite”.

Se o governo Lula serviu para alguma coisa, foi para arrefecer a moral desse pessoal. Mas a patrulha ideológica continua. Para boa parte da esquerda, alguém com idéias liberais não é uma pessoa com um ponto de vista diferente sobre como melhorar o Brasil. É um defensor dos privilégios das elites.

Imaginem se eu fosse uma pessoa pública e defendesse a extinção das universidades federais. Seria taxado de reacionário, “neoliberal”, pelego do capitalismo internacional, que só tenho essa opinião porque poderia pagar uma faculdade privada.

Elitistas são vocês, meus caros. Eu quero que toda a verba para educação vá para quem mais precisa. Quero que o dinheiro destinado a jovens como eu (estou, infelizmente, longe de ser rico, mas há gente muito pior) vá para a construção de uma escola pública no interior da Paraíba.

Viria a réplica: deste jeito, aquele estudante carente que se esforçou e superou dificuldades nunca vai ter a chance de cursar o ensino superior e ter acesso aos melhores empregos, deixando as boas vagas sempre para os mesmos.

Se tu pensas assim, e há uma certa lógica nesse raciocínio, preste bem atenção nesta expressão: ensino público não-estatal.

Segundo o próprio ministro da Educação do PT, cada aluno da rede universitária pública custa, por mês, R$ 1380,00. Com esse dinheiro, é possível pagar duas mensalidades na rede privada. Portanto, as pessoas de baixa renda que conseguirem ser aprovadas no vestibular teriam seus estudos pagos pelo governo. Inclusive, que se desse uma bolsa auxílio para os casos mais críticos, onde o estudante precisa trabalhar para manter a família. É um paradoxo, mas acabando com a universidade pública, mais pessoas poderão cursar o 3° grau.

É claro que política educacional não pode ser apenas uma conta financeira de alunos matriculados versus reais investidos. As universidades federais, hoje, são as entidades que apresentam os melhores resultados nas avaliações. Isso, a meu ver, se dá por dos motivos:

1- O vestibular seleciona, naturalmente, os mais estudiosos. Quem se mata de estudar para ser aprovado na rede pública tende a ser mais disciplinado e terá melhor desempenho acadêmico.
2- Atraídos por uma previdência vantajosa, pela estabilidade e por um salário competitivo, alguns dos melhores professores estão nas universidades públicas.

Os melhores alunos continuariam indo para a universidade. Uns, pagando. Outros, financiados pelo governo. Quanto aos bons professores, não se preocupem. Não ficariam desempregados. Seriam, certamente, contratados pelas privadas. Só precisariam rever alguns hábitos, como escalar bolsistas para substituí-los, chegar atrasado e usar a aula como plataforma de propaganda ideológica. De lambuja, acabariam as greves com motivação política.

Espero que tenham entendido meu ponto. É claro que é dever do Estado que todos os tenham acesso à educação. Só que, para isso, ele não precisa construir o prédio, mobiliar as salas, contratar os professores, definir o programa, organizar o calendário... Deixemos isso para a iniciativa privada, via de regra mais dinâmica e eficiente. E que o governo retome com vigor uma função fundamental que anda relegada: a fiscalização da qualidade do ensino.

Infelizmente, sei que essa é uma causa perdida. Se algum político sonha em levantar algum dos pontos acima, sofrerá um linchamento moral arrasador. Essa elite conservadora...

Adoro Falsos Moralistas. No Inferno, é Claro!

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