4 de mar. de 2006

O maior espetáculo da Terra

por André Arruda Plácido em 04/03/2006, no Mídia Sem Máscara

Resumo: Acabado o maior espetáculo deprimente da Terra no sambódromo de Brasília, o momento da apuração: Qual será campeã? Brigas, negociatas, ameaças, dossiês, mortes, compra de votos etc.

Finalmente o carnaval acabou! Sei que o brasileiro ama a festa e respeito a manifestação popular, a expressão máxima da cultura nacional, etc. Mas é sempre a mesma coisa, gente! Todo ano a tevê mostra as mesmas danças, as mesmas fantasias, o ritmo - que passou por uma revolução na década de 60 quando mestre André, da Padre Miguel, inventou a famosa “paradinha” da bateria -, o Rei Momo, os trios elétricos, as mulatas. Bem, as mulatas...
Perceba que as letras sempre são mais ou menos assim: “Vem comigo amor, nas asas da ilusão”, “Vem viver comigo essa emoção”, “Vem amor, nessa festa me levar”, “Vem ser feliz nas asas da emoção”.

Como no reinado de Lula-lá é orgulho nacional alguém dizer que é ignorante, que não possui diploma e que é pobre - ser rico, e ainda por cima dono de terras então, é ser um herege das causas revolucionárias latino-americanas - além de ser quase que um crime falar em português compreensível, e ainda descobrirmos um esquema de corrupção jamais visto em outros carnavais, pensei em algumas escolas de samba que fariam sucesso. É só chamar Duda Mendonça: “Escola de Samba Unidos do Caixa 2 Bandido”, “Grêmio Recreativo Excluídos do Mensalão”, “Acadêmicos Comparsas do ‘nosso Delúbio’”, “Marginalizados do Recurso Não Contabilizado”, “Unidos do Contrato Assinado Sem Ler”, “Estação Primeira do Paraíso Fiscal” e a “Gaviões do Erário Público”. Enquanto estivesse ocorrendo sua apoteótica apresentação, os simpatizantes da Gaviões – parentes, construtoras etc. -, poderiam gritar: “Ahá, uhú, o Erário é nosso!” O samba enredo: “E se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”. Os confetes e serpentinas seriam feitos das toneladas de papéis vindos de processos contra eles movidos, mas rapidamente arquivados.

Haveria também o bloco dos parlamentares que renunciaram: “Unidos da Renúncia Ética”. Imagine os ensaios do bloco no salão do Congresso e a bandinha dos puxa-sac... quer dizer, dos suplentes e assessores tocando: “Quanto riso, óh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão

O PT, por sua vez, poderia formar o “Revolucionários da Amnésia Proletária”, já que eles fazem tudo aquilo que prometiam não fazer se estivessem onde hoje estão, e o tema do samba enredo: “Esqueçam tudo que dissemos até hoje no Brasil, o país do valerioduto e do marketing político”. Paulo Maluf poderia lançar o “Mocidade Alegre das Ilhas Jersey”, bloco que teria integrantes a dar com pau! Já o povo viria representado pelo “Grêmio Recreativo Massa de Manobra”. Na comissão de frente os caras-pintadas, verdadeiros ícones da Escola, e o tema seria escolhido durante um “café com o presidente” da Massa.

Acabado o maior espetáculo deprimente da Terra no sambódromo de Brasília, o momento da apuração: Qual será campeã? Brigas, negociatas, ameaças, dossiês, mortes, compra de votos etc. Quem sabe até mesmo uma renúncia de última hora pela acusação de suborno dos juizes. Com o heróico e republicano ato, o retorno no próximo ano fica garantido e a eterna brincadeira recomeça sem problemas no próximo carnaval.

Como seria diferente o Brasil se tivéssemos por ele o mesmo amor que temos por carnaval e futebol. Nosso trio seria o da educação, do desenvolvimento e da distribuição de renda. Não pisariam mais no solo sagrado de nossa avenida o bloco dos corruptos, dos ladrões e dos incompetentes travestidos de salvadores da pátria. Não entrariam em nosso salão a indecência e a corrupção. Teríamos um bloco de foliões conscientes nas eleições e faríamos então da festa democrática o maior espetáculo da Terra. Melhor de tudo: não nos esqueceríamos das mulatas!

O samba enredo do momento: “Vem comigo amor, vem nas asas da indignação descobrir o que faz nossa rica e maltratada nação, ser ninho de político ladrão e de um povo maravilhoso que acredita em ilusão”.
O autor é professor de comunicação, escritor e jornalista, graduado em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (PR) e especializado em Comunicação e Liderança pelo Haggai Institute, de Cingapura.
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Tenho Vergonha de Ser Brasileiro. Não vejo, não enxergo nada que me faça sentir orgulho deste país.

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