16 de fev. de 2006

Catatonia?

por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, do Blog do Noblat

Ando estarrecida com a capacidade de nossas autoridades, em todos os níveis, de permanecerem incólumes apesar de tudo que lhes tem caído em cima! As notícias são assombrosas: corrupção, injustiça, incompetência, descaso, conchavos, promessas não cumpridas, abuso de autoridade, insensibilidade, enfim, não se passa um dia sem uma nota no jornal que não indique um descaminho, um descalabro, uma inverdade, uma violência cometida contra o Brasil e os brasileiros.

Parecemos catatônicos. Não é que o povo esteja desatento, ou que faça como nossas autoridades, que nunca sabem de nada. Não, sabem de tudo, tanto assim que, numa das últimas pesquisas, 82% do universo pesquisado diz saber que há corrupção; 85% crê que o Presidente está envolvido, mas assim mesmo os índices de aprovação do Executivo, ou seja, do Presidente Lula, já voltaram a patamares de antes da crise. Isso não é de estranhar, dada a rica campanha eleitoral desenvolvida pelo presidente-candidato.

Mas o que dizer dos inacreditáveis índices de aprovação do Congresso, apesar da fantástica colônia de férias remuneradas que Suas Excelências gozaram neste início de ano? Alguns comentaristas comemoram o fato de que afinal o Congresso se rendeu ao clamor público e acabou com a farra. Já chegamos ao ponto em que reconhecemos e agradecemos as migalhas...

O Supremo Tribunal Federal tem colaborado com nossas trevas: hoje mesmo foi depor na CPI o senhor Dimas Toledo, suposto responsável de uma suposta lista de favorecidos enquanto ele era diretor de Furnas. Alega que a lista é falsa, que é tudo uma armação, mas fez questão de comparecer perante a CPI com uma nada suposta liminar que lhe foi concedida pelo STF. Por quê?

Em São Paulo, o coronel Ubiratan Guimarães foi absolvido por 20 votos contra 2, pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do estado. Lembram da estranha figura? É o responsável pelo massacre do Carandiru. O jurista Flávio Konder Comparato criticou veemente essa decisão. Mas suas palavras encontrarão eco?

Numa capital nordestina, uma juíza diz que não vai demitir seus parentes porque, segundo ela, não é por serem seus parentes que “devem viver numa caverna como leprosos”.

Os partidos políticos, que deveriam ser o celeiro de pessoas de qualidade dispostas a dedicar sua vida ao exercício da nobre atividade de servir ao país, dão exemplos assustadores. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse, no programa ‘Roda Viva' desta semana, que os deputados beneficiados com dinheiro do que ele mesmo chamou de "esquema do mensalão", não devem ser satanizados. E aqueles mais amigos do rei, que não foram expulsos ou cassados, quer dizer, os que não foram escolhidos para bodes expiatórios, esses até compareceram à festa dos 26 anos do PT, onde foram acolhidos pelo presidente da República.

E os partidos de oposição? Têm ou não têm candidato? A vaidade e a covardia são tamanhas que estão deixando o new Lula sozinho na arena. Quando derem por si, adeus, viola!

Não escapa nem mesmo a língua portuguesa, agredida diariamente pelo Presidente da República, embolada por ninguém menos que o Ministro da Cultura, ciciada pelo Ministro da Fazenda e enriquecida, se é que podemos nos referir assim ao novo vocabulário, por expressões inusitadas tais como ‘recursos não contabilizados’, para se referir ao velho caixa 2, e recentemente outra maravilha: ‘imprecisão terminológica’, i.e. informação inexata, ou seja, mentira.

Os exemplos são inúmeros e dos mais variados matizes. Enumerá-los daria uma lista bem maior que a tal Lista de Furnas. Mas já estamos no carnaval, os Rolling Stones vão fechar a Avenida Atlântica, o U2 vai parar São Paulo, o que mais a gente quer?

Nenhum comentário: