16 de fev. de 2008

A Coréias não são iguais


Ainda bem que existem histórias nefastas como a dos cartões corporativos. Se não fossem elas, o que seria feito da imprensa brasileira? Em um vazio de idéias como o da política brasileira, sem propostas, sem soluções, sem objetivos, se estivéssemos também sem estes escândalos, morreríamos de tédio. Imagine se a imprensa dependesse tão somente de publicar o que o senador Eduardo Suplicy pensa sobre a segurança pública? Ou sobre as idéias viscerais de Tarso Genro sobre a educação? Ou da filosofia de bolso emprestada pela senhora Marilena Chauí, aos governantes? Ainda bem que apareceu uma Matilde.

Chistes à parte, como trabalho com números e análise de dados, puxo o histórico deste governo e relembro -- de maneira bastante lacônica -- a quantidade de barbáries que foram cometidas nos últimos anos e que todo mundo já sabe: foi dólar na cueca, foi mensalão, foi achaque nos Correios, foram os sanguessugas e, agora, a farra dos cartões corporativos. Fico imaginando se isso acontecesse em um país sério, como os Estados Unidos. Primeiro, que não aconteceria porque lá as pessoas não dormem com as consciências atormentadas por tamanha falta de pudor ético e moral. Mas em uma situação hipotética, já teriam caído presidente, ministro, e quem mais fosse necessário.

Mas aqui no Brasil, isso tudo é perfeitamente tolerável. É permissível. As pessoas não cobram atitudes energicamente porque, de fato, são moralmente muito parecidas com a classe política que as ordenha. Em sua enorme maioria, cometeriam os mesmos delitos. Temos muitas Matildes espalhadas por aí. As pessoas só tiram a bunda da cadeira para protestar nas ruas, quando alguém sério como o Presidente Bush vem ao Brasil. Não se sentem insultadas em serem abusadas por políticos. Se sentem insultadas apenas pelo seu complexo terceiro-mundista frente à nação americana.

Voltando ao caso dos cartões corporativos, o que se viu por parte da imprensa, foi vexaminoso. Ao invés de buscarem apurar os gastos, travou-se uma disputa ideológica entre PT e PSDB. Os dois partidos disputaram o troféu tapioca, onde o vencedor é quem consome menos indevidamente o dinheiro público.

Neste caso, a blindagem da imprensa aos petistas foi clara. Ela quer dizer para o bocó do eleitor que PT e PSDB são iguais. Quando surge um novo escândalo petista, logo dizem que “no governo FHC também era assim”. Primeiro jogam a acusação. A oposição que se vire para provar o contrário.

Assim como as Coréias do Sul e do Norte, o PT e PSDB não são iguais. Estou longe, bem longe de simpatizar com os tucanos, mas jamais os vi apoiarem ditadores delinqüentes de esquerda; jamais os vi aparelharem o estado de maneira tão sórdida; jamais os vi metidos em tamanha sorte de maracutaias; nunca os enxerguei praticando a corrupção como filosofia de governo. Mas nos dias de hoje, eles que se virem para provar o contrário.

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