26 de jan. de 2006

AQUELES DIAS, OU SERÃO ESTES? - por Saramar

Minha mãe me conta que, quando era jovem, havia "aqueles dias" aliás, tema de campanha publicitária. E fico pensando como eram bons aqueles tempos em que campanhas publicitárias tratavam de assuntos tão delicados e femininos quanto "aqueles dias". Invejo minha mãe.

"Naqueles dias", tudo se interrompia. A mocinha geralmente ficava em casa, meio envergonhada. Não saía porque "todos poderiam perceber que estava naqueles dias". Era um período de quase recolhimento em que quase nada acontecia principalmente por um certo decoro fisiológico, se me permitem o trocadilho.

Depois da minha lição diária lá no Azimuth percebi que as autoridades brasileiras estão "naqueles dias". Ninguém faz nada. Tudo está interrompido.

O presidente não governa (ele sempre esteve naqueles dias, desde o início do governo), só vive em palanques, mas nada a ver com eleições. Ele ainda não sabe. Ele realmente não sabe de nada. Mas, aproveita "aqueles dias" para visitar companheiros pobres e esquecidos nos confins do país, desde que estejam no mesmo trajeto dos buracos em que despeja inutilmente, milhares de reais.

O Congresso Nacional também está "naqueles dias", principalmente porque depois de tantos dias de convocação extraordinária remunerada em dobro, ninguém é de ferro para ir voltando assim, tão aceleradamente. Há que passar por um fase adaptativa de retorno ao trabalho, ou "aos trabalhos", como eles dizem. Por enquanto, vão permanecendo "naqueles dias". Estão se "guardando pra quando o carnaval passar".

O Judiciário também está "naqueles dias". Afinal, a Constituição não proíbe diferenças entre os cidadãos? Por que eles os juízes não poderiam seguir o costume, fonte do direito? Ninguém pode contestar o costume dos brasileiros de ficar uns 60 dias "naqueles dias". Mas, não pensem que "aqueles dias" dos juízes é semelhante aos dos mortais. Nem poderia, uma vez que seres tão excelsos, têm obrigações intrínsecas à sua estatura. "Aqueles dias" dos meretíssimos são utilizados de outra forma. Estão cuidando da manutenção das esposas, amantes, filhos, genros, noras, cunhadas, sobrinhos, netos e outros nos seus dignos empregos.

Assim, amigos, enquanto os dirigentes do país estão "naqueles dias", nós, os palhaços, os otários, os ingênuos, os indiferentes e os indignados estamos vivendo os nossos dias de total abandono. Até quando?

Visitem o blog da Amiga Saramar

2 comentários:

Nat disse...

Este texto da Saramar estava mesmo soberbo!!!

Anônimo disse...

Adorei o texto da super amiga Saramar. E não foi só porque citou meu modesto blog.

De qualquer maneira, gostei muito de vê-lo reproduzido aqui. Valeu mesmo!

Aguardo sua visita lá no AZIMUTH.

Abraços,
N. Cotrim