1 de nov. de 2006

Acusações não devem permitir a Lula uma segunda lua-de-mel - por Larry Rohter, no New York Times

Ao conquistar reeleição no domingo com 60,8% dos votos, Luiz Inácio Lula da Silva quase repetiu o desempenho acachapante que o tornou presidente do Brasil quatro anos atrás. Mas não parecem prováveis uma segunda lua-de-mel ou uma pausa nas acusações de corrupção e outras dificuldades que vêm prejudicando seu governo.

Lula enfrentará um segundo mandato difícil. Seu PT está debilitado por escândalos de corrupção, e ele está sob pressão para adotar políticas econômicas mais populistas. Mas para conseguir aprovar seu programa legislativo, ele corre o risco de se ver forçado a aceitar acordos eticamente questionáveis, exatamente como aqueles que causaram as dificuldades que seu governo vem enfrentando.

Mesmo antes do início de seu segundo mandato, Lula enfrenta a perspectiva daquilo que alguns brasileiros vêm definindo como "o terceiro turno" da eleição. Embora a dimensão de sua vitória deva desencorajar os oposicionistas a pedir seu impeachment, há processos em curso nos tribunais, e pode se mostrar ser mais difícil detê-los.

Há também a questão prática de como Lula planeja administrar a máquina do governo. O PT tinha escassa experiência administrativa, para começar, e como resultado dos escândalos muitas das figuras em que ele confiava caíram em desgraça.

Lula ocasionalmente expressa frustração por não conseguir o que quer do Legislativo. Em jantar recente, diz-se que ele teria afirmado que tinha "vontade de fechar o Congresso".

Lula se recusou a assinar uma petição que solicitava que os candidatos assumissem o compromisso de não convocar Assembléia Constituinte. Oposicionistas tomaram esses lapsos como motivo para sugerir que um segundo mandato veria Lula ceder a seus impulsos autoritários. Mas a maioria dos analistas desconsidera as declarações ambíguas e os alertas sombrios da oposição como simples retórica de campanha.

Não está claro se Lula interpretará sua vitória esmagadora como absolvição pelos casos de corrupção. "O PT disse que estava se reestruturando, e logo a seguir se envolve em um escândalo bizarro como esse", disse Jairo Nicolau, professor de ciência política: "Se não aprenderam nada de 2005 para cá, não há garantia de que não repetirão os mesmos erros".

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