16 de out. de 2006

A Retórica de Lula e o Aprendizado do Brasil

por Valdivino Ferreira

1. Muitos acreditam no candidato Molusco da Silva. Faço parte daqueles que não depositam confiança em seu governo nem em sua pessoa. Primeiro foi o escândalo com o Waldomiro Diniz e do “seu” Carlinhos Cachoeira. O Molusco e o Zé Perseu [êpa...Dirceu], disseram que nada sabiam, que haviam sido traídos por Waldomiro. De fato o tempo foi curto para reconhecer o terreno e descobrir os inimigos, porém os amigos, esses o presidente já devia ter levado da sua caminhada de quatro campanhas. São muitos amigos e auxiliares conquistados em anos há fio, além de companheiros conquistados nesse longo caminho de sindicalista a candidato do PT. Impossível que todos fossem crápulas, desonestos, sacripantas... Ou de fato eram? José Dirceu não sabia de Waldomiro? Estranho, pois Waldomiro chegou a morar no mesmo apartamento que Dirceu. Mas com Lula e sua turma é assim: eles não sabem o que acontecem na cozinha de suas casas... Imagine se irão saber o que acontece pelo Brasil afora...

2. Depois veio o escândalo dos Correios, onde um gerente qualquer, nomeado por um acordo do PTB com o PT [por aí já começa], recebia propina de um fornecedor. Míseros três mil reais. Na esteira, sabe-se lá o que deu errado entre o caso de amizade de Roberto Jéferson e Zé Dirceu, estoura o mensalão. E digo e repito: mensalão houve. Senão mensal, pelo menos periódico e sistemático, acompanhando o desenrolar das votações plenárias. Os extratos fornecidos pelo COAF assim o provam. E para espanto dos estudiosos da língua vou mais longe: houve mensaleiros, mensalônicos, mensalinhos, mensalões e semanões. E foi aquele Delúbio de sujeiras e acusações. Dinheiro parecia dar em árvore: era cem milhões aqui, duzentos milhões ali, noventa milhões acolá. Era empréstimo tomado para pagar dividas do PT e que o presidente – que inocente presidente – não sabia. Foi o maior escândalo de todos os tempos, nunca a classe política e o Partido dos Trabalhadores à frente, desceu tão baixo, um verdadeiro mar de lama. Nem os militares, que o petismo acusam de tudo poderem e fazerem em seus períodos de mando, jamais tiveram a coragem de pagar um deputado para votar com o governo. Se queriam o voto da Câmara ou do Senado, pressionavam os lideres, e estes por sua vez, encaminhavam a votação. Uma vergonha nacional. Um tapa na cara do povo brasileiro. E o Molusco da Silva, o que fez? Refestelando-se numa de suas viagens internacionais a bordo do Aero-Molusco, deu entrevista na França dizendo que caixa dois é normal no Brasil e todo mundo fazia. Todo mundo, não – seu Molusco. Todo bandido, você quis dizer.

3. Poucos brasileiros viram a nação brasileira tão ultrajada como agora na atual crise com a Bolívia. Pois não é que ao invés de defender o Brasil, o Molusco presidente dizia que a Bolívia é que estava com a razão? Pois bem, se o presidente dava ganho de causa ao país vizinho, porque o país vizinho precisava buscar acordo? A diplomacia brasileira saiu do episódio humilhada e enfraquecida. Tudo graças à língua solta de um presidente falastrão. De embrulhada, mandaram para os ares mais de 180 anos de boa e especializada diplomacia, famosa por buscar sempre os interesses do Brasil. Silva Paranhos, o Rio Branco; Félix Pacheco, Afrânio de Melo Franco e Afonso Arinos, devem estar se revirando em seus túmulos.

4. Não há dúvida que a democracia propicia momentos maravilhosos na vida de uma nação. Mas temos que convir que nem sempre a voz do povo é a interprete mas correta da comunicação divina. A eleição de LULLA é uma prova dolorosa disso. Foi um erro. Um crasso erro da nossa democracia, eleger um sindicalista que até parecia alguém interessante, mas que ficou o tempo todo dando voltas sem nada fazer de interessante. E pior: não viu nada, não soube de nada e irá sair do governo sem fazer nada.

5. E está ficando muito claro a sua queda para o autoritarismo: Não vai a debates, não aceita criticas, faz uma propaganda extremamente pessoal, divide o país em pobres e ricos, segrega os estados da federação por critérios de que partido o governador pertence. Prefere investir no metrô de Caracas, do que no metrô de São Paulo e Belo Horizonte, por sinal dois estados governados por pessedebistas.

6. O Molusco da Silva ultimamente está se saindo um caudilho mal resolvido e um peronista mal-acabado. De um lado, tenta agradar os pobres com o Bolsa-Família sem mostrar-lhes nenhum horizonte; de outro tenta empanturrar a pança dos banqueiros e do capital estrangeiro à custa do suor do povo brasileiro. No horário nobre despeja acusações contra as elites e os privilegiados, chamando-os de plantadores do atraso. Ainda por outra vertente, tem o desplante de chamar o povo brasileiro de ignorante, quando diz que faltou sabedoria para definir a eleição no primeiro turno.

7. Outro defeito do Molusco é a arrogância. Diz de boca cheia que nenhum presidente fez mais do que ele. Mentira, falácia, flatulência verbal. Angra I, Angra II, a Hidrelétrica de Paulo Afonso, Três Marias, Pacaembu, Mineirão, Brasília, Belém-Brasília, Transamazônica, Zona Franca de Manaus, — me digam: Foram construídas por LULLA? Diz que a saúde anda bem. Só se for para o Molusco. O Hospital de São Vicente de Paulo, aqui de Turmalina, tem uma divida de mais de cento e noventa mil reais em AIH’s, que o SUS de Lula não paga. Detalhe: o HPSV está quase a fechar as portas com dívidas trabalhistas.

8. Como se vê, o Molusco anda mal de obras, mas está pior na retórica. É preciso que o Brasil saiba dar uma resposta convincente a tanto mal caratismo e a tanta sujeira que teima em sair de debaixo do tapete. Entre uma retórica atrasada e um governo mal-acabado, é melhor que o eleitor estude com tempo e sabedoria a situação atual do país, e aí então, decida seu voto. Talvez assim, como ele disse que tenha faltado sabedoria no primeiro turno, agora no segundo turno sobre sabedoria no país inteiro.

Fonte: Diego Casagrande

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