24 de set. de 2006

PORQUE VOTO EM ALCKMIN - Percival Puggina

Revista Voto, edição de setembro de 2006

Percival Puggina

Vários leitores me pediram para escrever sobre as razões pelas quais não votarei em Lula. Tarefa complicada. Se fosse relacionar todos os motivos para não cometer essa loucura seria necessário escrever um livro inteiro. E para isso me falta tempo e disposição.

A saída me veio através de um amigo com quem conversava sobre o assunto. Disse-me ele: "Puggina, existem políticos da direita que às vezes pensam que eu sou bobo. Mas os da esquerda me tomam por bobo todos os dias". Quanta lucidez nessas palavras! De fato, o que estamos assistindo no Brasil é o sucesso eleitoral de um discurso que pressupõe platéia em estado mental letárgico. De fato, quanto mais eufórico eu vejo o presidente Lula, quanto mais seus índices flutuam sobre esse líquido espesso e pestilento onde teima em não afundar, mais me convenço de o quanto seria higiênica uma troca de comando na política brasileira. A essas alturas, um governo não petista passa pelas narinas e chega aos pulmões com jeito de ar aspirado entre as orquídeas da montanha.

A democracia nos concede uma oportunidade singular. Com raras, raríssimas exceções, o joio da política brasileira foi atraído para o governo Lula e para sua base parlamentar como limalhas de ferro são capturadas por um imã. Se você erguer esse imã, que está localizado no Palácio do Planalto, os folículos da limalha se erguerão junto, presos uns aos outros em longos filamentos. Já pensou? Depois, é só jogar tudo fora e pronto!

Não, caro leitor, não estou exagerando. No governo, no Congresso, espalhando-se pelos estados da Federação, numa infindável seqüência de escândalos e denúncias, as figuras que sempre se vê ocupando as constrangedoras manchetes são membros do governo, dos partidos que o compõem e de sua sustentação parlamentar. A grande vantagem que estes últimos quatro anos nos proporcionaram foi que o destemido trabalho da imprensa tornou conhecidos, pelos nomes próprios, praticamente todos os pintados e barrosos dessa até então anônima boiada.

Nos últimos dias, assistindo tanto os debates entre os candidatos a governador quanto os programas de tevê da dona Heloísa Helena, fiquei pensando que o partido da senadora está proporcionando ao do presidente Lula miligramas daquilo que o PT durante décadas e às toneladas jogou para cima de quem se antepusesse aos seus projetos políticos. Mas isso não faz da senadora e de seus candidatos uma alternativa melhor. Para que também não nos tomem por bobos todos os dias como vêm tentando fazer, é bom lembrar: os parlamentares líderes do PSOL não pediram para sair do PT porque não quisessem andar em más companhias ou por rejeitarem o que febrilmente transitava pelas vísceras do partido desde antes da eleição de 2002 e se tornou ainda mais grave na composição da sua maioria parlamentar. Não, a senadora e os deputados do PSOL foram expulsos por discordarem da reforma da Previdência. E a expulsão os contrariou. Fizeram o que podiam para permanecer no PT.

Uma coisa é uma coisa. Outra coisa, sabem todos, é outra coisa. Uma coisa é divergir da forma como se chega ao poder, do modo como o poder se estrutura, reparte e exerce. Outra é a dissidência de base ideológica. E os pupilos da senhora senadora deixaram o ninho antigo por motivos que em nada me sensibilizam, na medida em que o fizeram para preservar a pureza de uma ideologia de péssimo passado e, por isso mesmo, mais nenhum futuro. Essa ideologia não pode apresentar um caso bem sucedido, uma democracia construída ou um único estadista nascido em suas entranhas.

Por isso, voto em Geraldo Alckmin.

Nenhum comentário: