24 de ago. de 2006

Simbiose Artística - por Rodrigo Constantino

Eu me sinto eufórico com os resultados do governo Lula; costumo dizer que estou indignado com os indignados.” (Wagner Tiso)

O presidente do “mensalão” participou nessa segunda-feira de um encontro com artistas na casa do ministro Gilberto Gil, em São Conrado. O apoio de boa parte da classe artística ao presidente Lula parece incondicional – ao menos no que diz respeito aos aspectos éticos. Provavelmente, tamanho apoio, mesmo depois de tantos escândalos, está condicionado somente às polpudas verbas que o governo vive despejando para esses artistas. O cão não costuma morder a mão que o alimenta...

O compositor Wagner Tiso reclamou que ninguém falou do caixa dois da reeleição do Fernando Henrique. Disse não estar preocupado com esses “detalhes” éticos, mas sim com o jogo do poder. Justificou ainda as alianças espúrias do PT, que englobam até mesmo José Sarney e Jader Barbalho. Não obstante o fato de que o PT de Lula não praticou “apenas” caixa dois, mas sim foi o arquiteto do mais nefasto esquema de corrupção visto no Brasil, parece que a mentalidade do artista é do tipo que divide os ladrões entre os que “me roubam” e os que “roubam para mim”. Até então, qualquer vestígio de corrupção era motivo para execrar os governantes – com razão. Mas de repente, quando o candidato deles chegou lá, a balança que julga passou a ter dois pesos, e duas medidas. Lula pode roubar à vontade. Os artistas não condenam. Basta soltar a verba para a “cultura nacional”.

O ator Paulo Betti afirmou que “política não existe sem mãos sujas”. Parece que quando a oposição suja as mãos, é a podridão da “direita reacionária”, mas quando é o Lula “deles”, uma luva impermeável evita que qualquer sujeira grude nas mãos. Não tem problema para os artistas que a grana para a “cultura” venha suja de bosta – contanto que não deixe de vir. Enquanto a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal forem os grandes financiadores dos artistas, Lula pode declarar amor ao ditador Fidel Castro que não tem problema algum. Pelo contrário: mais um filme enaltecendo alguma figura pitoresca como Che Guevara será produzido, enquanto a crítica irá “descer a lenha” no filme de Andy Garcia, que mostra um pouco da realidade cubana. Viva Olga! Afinal, a espiã da KGB lutava pela nossa “democracia”, a mesma que vem “elegendo” Fidel Castro por 47 anos seguidos...

O ator Zé de Abreu merece o troféu de mais patético da noite. Fez um brinde aos “Zés”, incluindo o Zé Dirceu e Zé Genoíno. Lula, ao ser questionado sobre a possível inconveniência do brinde, rebateu que não tinha problema, pois não devemos abandonar os amigos. Fica claro então que, quando Lula diz que foi traído, não trata-se dos que montaram o esquema de corrupção, mas sim dos que denunciaram o esquema. Esse é o presidente que será reeleito, ao que tudo indica, pelo povo brasileiro. Com a ajuda da classe artística, evidentemente.

Zeca Pagodinho teria dito que Lula tem a “palavra do povão”, e que é seu fã por ele falar a língua do povo. Lula, por sua vez, teria prometido ir tomar uma cachaça em Xerém depois das eleições com o cantor. Falar a língua do povo não qualifica ninguém para presidir uma nação complexa como o Brasil. Talvez ambos devessem ficar então apenas bebendo cachaça – e falando no dialeto que desejarem. Mas governar um país é coisa mais séria que isso!

A grande ausência da noite foi Chico Buarque, aquele que admira Cuba à distância, de sua milionária casa. Lula conta com o apoio de muitos “intelectuais” também, como a doutora Marilena Chauí. Os motivos são semelhantes: quando não é por ideologia dogmática, fruto de intensa lavagem cerebral na juventude, é apenas pela simbiose entre ambos, “intelectuais” dependentes da mão estatal e governantes que controlam o Estado. Entre a massa de apoio, encontramos muitos inocentes úteis, os que seguem cegamente o líder por motivos ideológicos. São como o burro na Revolução dos Bichos, de Orwell. Mas os artistas e intelectuais não. Eles sabem mais um pouco. Eles estão mais para os porcos da revolução. Seus motivadores são mesquinhos mesmo. Fazem qualquer coisa para manter o poder e as verbas estatais. Até mesmo tolerar o mais corrupto governo das últimas décadas!

Diferente de Wagner Tiso, e dispensando qualquer verba estatal para poder manter tanto minha liberdade como consciência, ainda fico indignado com os que se dizem indignados com os indignados. Uma quadrilha foi montada, e os artistas aplaudem. Figuras assim mancham o próprio conceito de arte!

Com autorização do Rodrigo Constantino

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