16 de jul. de 2006

O BRASIL AMA O CAOS - Blog do Josias de Souza

Em respeito aos cadáveres produzidos pela onda de violência que engolfa o cotidiano de São Paulo a nação deveria responder a algumas perguntas cruciais: quando começa o caos? Será que já começou? Teria o país realizado o desejo que persegue desde 1500?

Foge-se das respostas por medo de que elas conduzam à grande revelação. Que levem à verdade irrefutável. Que guiem à percepção de que o Brasil encontrou-se, finalmente, com o insondável. É uma pena. Corre-se o risco de deixar escapar a última chance para recomeçar do zero. Da capo, como dizem os músicos.

Se era de caos que o país precisava para construir um recomeço, haveria matéria-prima de sobra. A lógica deveria dar a luz a um entendimento. Mas a política, parafuso espanado que rodopia a esmo, não segue a lógica.

A lógica pede um compartilhamento de culpas. E, como sabem todos, ninguém é culpado pelo caos. Ou, por outra, todos são culpados, menos o último entrevistado. O caos é sempre culpa do outro. Não há quem se disponha a partilhar o caos.

De resto, um eventual entendimento deixaria os gestores do caos sem ter o que debater. Se o caos fosse eliminado eles seriam forçados a se dedicar a tarefas menores. Trabalhar, por exemplo. A resolução do caos transformaria o Brasil num tedioso inferno de problemas resolvidos.

O fim do caos também não faria bem à religião. Edir Macedo não teria mais demônios a exorcizar. E a manutenção da mansão de Miami ficaria comprometida. O extermínio do caos não dá lucro. Que seria da indústria de grades, de porteiros eletrônicos e de alarmes sem o caos? A que reengenharias teriam de se submeter as firmas de segurança privada, muitas delas comandadas por ex-comandantes da polícia?

A eliminação do caos também não interessa à academia. O caos é a musa dos intelectuais. Proporciona-lhes uma reconfortante sensação de utilidade. Dá-lhes boa consciência. Sem o caos, faltaria inspiração para as grandes teses. Haveria uma legião de doutorados no inócuo.

A imprensa tampouco se interessa pelo fim do caos. Sem a ameaça à ordem social, os Jornais não teriam o que pendurar nas manchetes. O caos dá às primeiras páginas a estética da urgência que seduz os leitores. Artigos como esse que você está lendo perderiam o sentido.

Como a ninguém interessa acabar com o caos, resta ao Brasil cumprir o seu destino de nação inviável. O caos eterno é a prova de que países também podem ficar de miolo mole, sair do sério e cometer suicídio. O Brasil é a inviabilidade "full time". Por sorte, o país é feito à base de caos. Se fosse feito de lógica, faltaria material.

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