Por Mario Sabino - Newsletter de O Antagonista de 03/06/2016
Por razões de ordem familiar, passei a conviver muito com estrangeiros
expatriados. Todos estão no Brasil a trabalho. Todos acham o Brasil o fim da
picada. Todos querem cair fora o quanto antes.
Eu não deveria me deixar levar pelas impressões de uns poucos gringos,
mas elas confirmam os meus 54 anos de experiência como brasileiro. Aliás,
confirmam os meus 54 anos de experiência com brasileiros.
Os estrangeiros expatriados que conheço não criticam tanto a
criminalidade, os preços extorsivos, a precariedade das nossas cidades. Essa
desolação é conhecida. O que não suportam mesmo é a nossa falta de compromisso.
Somos pouco ou nada confiáveis no plano profissional e pessoal. Dizemos
uma coisa e fazemos outra. Quando fazemos. A especialidade nacional é frustrar
expectativas.
Brasileiros são capazes de negar que concordaram com a minuta final do
contrato que está ali à sua frente. Brasileiros são capazes de mentir que não
receberam mensagens de celular mesmo quando aparece o sinal de que foram lidas.
“Como não dá para confiar nas pessoas, é um dos piores lugares do mundo para
trabalhar e tentar fazer amigos de verdade”, afirmam os estrangeiros das minhas
relações.
Você ainda acha que estou sendo levado pelo impressionismo de gatos
pingados que miam em outra língua? Então lá vai: brasileiros são capazes de
garantir que eliminarão o esgoto da Baía de Guanabara até a realização dos
Jogos Olímpicos e acabar promovendo a Olimpíada do Cocô. Não é a melhor forma
de conquistar simpatia, convenhamos. E o pior é que, ao vir à tona esse
problemão sanitário, reagimos afirmando que se tratava de intriga
internacional. Pois é, os excrementos boiando ali do lado, como sinal de mensagem
lida, e nós insistindo em negar a sua existência.
O Brasil vai mal nos rankings de saúde, educação e produtividade, mas vai ainda pior no de confiabilidade. Precisamos nos emendar.
Um comentário:
O Sr. já jogou o lixo fora, agora vá fazer o dever de casa!
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