10 de fev. de 2008

Voyeurismo cívico

Por Adriana Vandoni

Não sei vocês, mas minha preocupação e atual ocupação é saber quem será a próxima Matilde. Não penso em outra coisa desde que a coitada e inexperiente Matilde foi defenestrada do seu cargo num ritual satânico que a entregou como oferenda. Ah, vá lá, tinha que cair mesmo. Pô!, a mulher pagou mais diárias de locação de carro do que os dias do ano.

Visitar o Portal da Transparência passou a ser uma espécie de voyeurismo cívico. É constrangedor ver as preferências e hábitos das autoridades, mas mais constrangedor foi ver um ministro de estado explicando os motivos que o levaram a comer uma tapioca. Que mico!, tadinho, deve estar com depressão, com vergonha de sair à rua. Tá nada! Eu é que fico com vergonha. E o ministro da Pesca? Como uma voyeuristas, notei que ele gosta tanto de peixe, que prefere preservá-lo e quando vai comer, cai de boca num belo churrasco. Já disse que o nome da pasta deveria ser do Peixe, não da Pesca. Essas são as miudezas da falta de compostura de uma gente que vê o que é público como de ninguém. Culpa de Lula que disseminou secretarias e ministérios fúteis e inúteis em seu governo. Mas vale a pena praticar esse voyeurismo cívico, é diversão pura.

Matilde deposta, Matilde posta!, e vamos escolher quem será a próxima. A Secretaria apelidada de Ministério da Igualdade Racial, apesar da ênfase expressa na população negra, tem a função, não apenas de consolidar as diferenças entre brancos e negros, como fazia Matilde, mas seu objetivo é "promover a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos, grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerância". Ora, por etnia entende-se "grupo social diferenciado de outros, por laços peculiares de cultura, religião, língua, comportamento etc., e que compartilha origem e história comuns". Essa definição abre um leque de possíveis futuras Matildes.

Vamos às opções:

Lecy Brandão: a cantora teve seu nome aventado pelo jornalista Ancelmo Góis. Sobre ela, não tenho muito a declarar. Na verdade conheço apenas dois trabalhos de Lecy. Um foi transformar todo bairro em "comunidade" – é comunicada da mangueira, comunidade da vila Isabel..., e o outro trabalho foi uma ponta no programa eleitoral da vice-prefeita de Cuiabá.

Preta Gil: atriz, cantora, modelo, performática e filha do ministro Gil, foi lançada na coluna de Tutty Vasques, mas tem poucas chances. Sua indicação nasceu praticamente morta. É espetaculosa demais da conta e seu pai já é ministro, o que poderia ser entendido como nepotismo.

Naomi Campbel: essa teria fortes chances. Melhoraria a imagem de todo o governo Lula, já carregado de botox, e promoveria o governo internacionalmente. Além do mais, não acredito que usaria o cartão corporativo para comprinhas em freeshops. Tem um apelo fundamental, é muito amiga íntima do cumpanhêro Hugo Chávez. Contra a sua escolha existe o fato de não saber o português, detalhe facilmente superado depois de mas aulinhas com o mesmo professor de Mangabeira Unger.

Evilásio Caó: o pupilo de Juvenal Antena é um líder nato, fato comprovado quando foi presidente interino da Associação dos Moradores da Portelinha. Tem domínio das massas, penetração e experiência em inter-relação racial, aliás, este é o fator que pode pesar contra sua indicação, pois não sei até que ponto a pasta quer, digamos, esse aprofundamento na relação inter-racial.

Saindo do eixo "cor de pele", temos outros ministeriáveis:

Toni Reis: é presidente da ABGLT - Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, tem feito um belo trabalho de sensibilização para o respeito à diversidade sexual e também sobre elucidação da AIDS. Ponto forte: presta contas de tudo que gasta na ABGLT.

Paulo Okamotto: seria uma inovação colocar um representante da comunidade japonesa e ainda por cima um que já foi o primeiro melhor amigo de Lula. Só tem um problema, Okamoto gosta de pagar tudo pra todo mundo, e nem avisa. Sabe, Okamotto é meu sonho de consumo! Mas, apesar de querer um Okamotto pra mim, acho que ele faria um strike com um cartão corporativo.

Raoni Metuktire: índio, tão famoso e fashion quando Naomi Campbel, tem até grife de bolsas e camisetas com seu nome. Seria um must no staff de Lula. Como já é um "indivíduo não governamental", gastar através do cartão não faria a menor diferença no nosso bolso.

Rabino Henry Sobel: este é o meu preferido. Sua atuação sempre foi marcada pela luta e combates pacíficos às diversas formas de intolerância política, religiosa e étnica. Sobel representa um marco no processo de democratização do país, maaaaaas... deu uma guinada na vida. A sua recente fase de antidepressivos o qualificou para assumir qualquer pasta no governo Lula, com a vantagem de não precisar de cartão corporativo algum para adquirir seus alfinetes. Basta mantê-lo com os remedinhos em dia.

Geeeente!!!!!, Peraê!, será que esses petistas andam tomando o remedinho antidepressivo do Henry?

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