19 de jun. de 2007

Terrorismo, o Braço Armado do Coletivismo


Logo nos primeiros anos do século XXI, a partir dos atentados terroristas que cobraram milhares de vidas nos Estados Unidos, na Espanha e na Inglaterra, o terrorismo ganhou força e presença como uma das ameaças mais significativas à paz e à segurança internacional no mundo que começou a se desenhar a partir do fim da Guerra Fria. No início da década de 1990, os primeiros momentos desta nova realidade histórica pareciam significar o início de uma era que seria marcada pela paz, harmonia, cooperação e prosperidade. Com o fim da bipolaridade, afinal de contas, desaparecia o temor da aniquilação nuclear da humanidade e os ideais da democracia e da liberdade pareciam ter encontrado, finalmente, a possibilidade de florescimento.

A própria década de 1990, entretanto, foi marcada por inúmeros conflitos de diversas naturezas. As tensões entre as duas grandes potências antagônicas, nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial, contribuíram para a manutenção de uma estabilidade relativa no cenário político internacional. Com o fim dessa tensão, profundas diferenças entre etnias rivais e o afloramento de nacionalismos colaboraram, entre outras causas, para a deflagração de conflitos armados em regiões como a África e os Bálcãs.

Ao mesmo tempo, o conceito de segurança internacional começou a pedir a sua redefinição. Surgiram novas ameaças, como por exemplo a desestabilização provocada pelo crescimento populacional e os fluxos migratórios, o impacto negativo dos desequilíbrios ambientais (tenham ou não causas antropogênicas), as atividades criminosas em escala internacional, o terrorismo e o risco da proliferação descontrolada de armas de destruição em massa, sejam químicas, biológicas ou mesmo nucleares.

Enquanto uns defendem a necessidade do desenvolvimento de mecanismos de cooperação para que a comunidade internacional possa lidar com esses problemas através do diálogo, dos esforços diplomáticos e da coordenação de ações efetivas, outros acreditam na necessidade do contínuo desenvolvimento e fortalecimento de capacidades militares para enfrentar as ameaças à integridade territorial dos Estados. Há problemas, no entanto, que exigem tanto a cooperação quanto o uso da força. O terrorismo é um deles.

O impacto dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, perpetrados em solo norte-americano, colocou a ameaça terrorista no foco das atenções, tanto na mídia quanto em diversos setores do debate acadêmico. O processo de globalização, que vem se intensificando graças aos avanços tecnológicos que facilitam as comunicações, a difusão de informações e os movimentos de fluxos de diversas espécies, também contribui para dificultar a correta identificação e localização de células terroristas e de grupos extremistas, que utilizam a seu favor grande parte da mesma tecnologia que temos à nossa disposição para combatê-los.

A própria dinâmica da globalização torna qualquer região do mundo factível de abrigar grupos dedicados a atividades de terrorismo. É nesse sentido que uma lógica estritamente estadocêntrica não é suficiente para dar conta do problema. Mais do que um embate civilizacional, o terrorismo, no século XXI, volta-se contra todo um modo de vida e representa o que poderíamos chamar de “braço armado” de uma complexa estratégia de construção de um mundo alternativo através da recuperação de um ideal de cunho coletivista que exige a aniquilação gradativa das liberdades individuais. Como os Estados Unidos simbolizam o conjunto de valores que identificam o modo de vida a ser suplantado por uma “nova ordem” política, econômica e social, o país torna-se automaticamente o maior alvo dos esforços de contestação vindos de todas as partes do mundo.

Essa contestação deve-se não somente à atual situação norte-americana de potência hegemônica, mas principalmente ao papel que o país ainda desempenha no que diz respeito à tentativa de preservação dos valores e das tradições que constituem o núcleo duro do que podemos entender por “ocidentalidade” – apenas em termos formais, porque o que está em jogo, na verdade, ultrapassa as fronteiras e o significado do “choque de civilizações” de Samuel Huntington.

O terrorismo islâmico, portanto, é apenas parte da história, justamente a parte onde o embate civilizacional fica mais evidente. O pano de fundo ideológico que alimenta os grupos terroristas e as atividades extremistas, contudo, tem a sua origem no holismo que dilui a expressão das individualidades na concepção coletivista que se manifesta, inclusive, na aberração política do totalitarismo.

Além de aproveitar-se da fragilidade institucional, das instabilidades políticas, das mazelas sócio-econômicas e da cumplicidade de alguns governantes, o terrorismo vive também da publicidade que obtém através da cumplicidade de parte significativa da difusão midiática e da manipulação cuidadosa da opinião pública.

Durante os anos da Guerra Fria, os soviéticos utilizavam uma sofisticada estratégia de política externa que integrava a propaganda aberta com técnicas políticas encobertas, que chamavam de “medidas ativas”. Dentre elas, podemos destacar a deturpação de fatos, a calúnia, a fabricação de notícias, a propaganda dissimulada e a prática da desinformação. Essas ações estratégicas, em conjunto, tinham o propósito de induzir a opinião pública mundial à crença de que os norte-americanos promoviam a desestabilização do mundo através do imperialismo belicista, enquanto os soviéticos eram defensores da paz mundial. Ora, toda essa articulação ideológica nos meios informativos e acadêmicos era possível apenas porque os soviéticos concentravam seus esforços principalmente na obtenção de resultados a longo prazo.

Os terroristas, não somente em sua versão islâmica, também consideram mais importantes os efeitos no longo prazo do que a eficácia dos atos isolados, obtêm apoio aberto ou velado dos proponentes do coletivismo e, a exemplo dos soviéticos durante a Guerra Fria, utilizam-se da mídia (principalmente a grande mídia) e dos intelectuais para a sua própria articulação ideológica e para a manipulação sistemática da opinião pública, que absorve cada vez mais as bases do relativismo permissivo.

É por isso que não será possível combater o terrorismo, enquanto braço armado do coletivismo, sem o reconhecimento de nossos valores e de nossa historicidade, sem a recuperação de nossos referenciais de moralidade e de nossa identidade cultural e civilizacional. O resgate de todos esses elementos é necessário para a elaboração de estratégias coordenadas de cooperação internacional, envolvendo tanto o diálogo e a diplomacia quanto o uso da força militar contra as ameaças terroristas, sempre que for necessário.

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