14 de abr. de 2007

A Arte de Salvar o Brasil - por J. O. de Meira Penna *

Educar, do latim ex-duco, “conduzir para fora” da ignorância, da grosseria e das pretensões dos analfabetos. Governar é isso mesmo

Descubro uma angústia depressiva em muitos artigos e e-mails que leio. Alguns perguntam: “o Brasil tem saída?” Outros já concluíram que esta foi uma experiência fracassada. É uma nação inviável. É um Estado falido e uma burocracia que, de tão gorda, já está matando a galinha dos ovos de ouro, o que quer dizer, o setor privado. Por que essa espécie de psicastenia coletiva grave, em grande parte da elite intelectual? Tudo tem solução pois nossos compatriotas são mestres na arte de salvar permanentemente o país, de preferência por intermédio de soberbas ideologias já defuntas como o Marxismo - em que pese o obsessivo empenho dos americanos os quais, ao que se diz, só pensam em duas coisas, democratizar o Iraque e atrasar o Brasil – começando por nos arrancar a Amazônia e humilhando os turistas brasileiros, que devem tirar os sapatos como se um Boeing fosse uma mesquita.

Embrenhando-me de mau jeito nesse magno empreendimento de arte soteriológica, ofereço algumas dicas para a obra mágica de salvar o Brasil (de seus governos). Por exemplo: há desemprego? Solução: cria-se por Medida Provisória 500.000 grupos de trabalho para estudar o problema, vinte membros cada um, boas diárias e muitas férias, que ninguém é de ferro, e temos imediatamente os dez milhões dos novos postos prometidos. Simplíssimo, salvo se os americanos tentarem torpedear o projeto. Eles nos poderão oferecer 300.000 vistos anuais para imigrantes clandestinos, com fotografia, marca digital, sem sapato no aeroporto e tudo o mais que revele sua arrogância. A debandada para Orlando será geral! Mas, neste caso, sempre existe a alternativa de impormos reciprocidade, como cabe a uma grande potência emergente, com um líder de prestígio global na Presidência o qual, em constantes e estimulantes visitas a outros eminentes estadistas como os de Cuba, da ilha de Taiti, o Kabaka do Burundi e o Palhaço-Mor da Líbia, cria as condições de uma vasta e merecida reação popular. Sua mensagem tem valor universal: “Pé-rapados do Mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, exceto vossas cadeias”... Os alicerces do Capitólio, em Washington, estão tremendo e o Presidente Bush que se resguarde em sua casinha branca: o chamado à revolta é mais perigoso do que um avião-bomba do Bin Laden.

Querem outro recurso para salvar o país? Que não se fale mais no MST e em ocupação ilícita de fazendas produtivas! O melhor é partir para as terras devolutas, que as há em abundância, quase quatro milhões de kms², neste que é o quinto mais extenso país do mundo, com a vantagem sobre os quatro colocados à nossa frente, de só conter terras férteis, nenhum deserto e nenhuma tundra. Sugiro que se faça a Reforma agrária da Ilha do Bananal para o Norte e o Oeste, para Mato Grosso, Rondônia e Roraima. Que se use desempregados, com caminhões paulistas, para abrirem a ligação rodoviária asfaltada, saltando sobre os Andes do Peru, com a recompensa de tomar banho de mar nas praias do Pacífico. E que não se procure pacificar a Rocinha, no Rio, estimulando os desesperados esforços dos dois garotinhos meio-moleques que governam o Estado.
Se país pobre é país burro, como afirmava Mestre Gilberto Amado, o de que se necessita é ensinar o B A = Ba, da Praça dos Três Poderes em Brasília até a Prefeitura de Catolé do Rocha, passando pela Câmara de Vereadores dos cinco mil municípios da Terra dos Papagaios. Que tal começar com uma babá de curso primário, colocando na primeira fila da escolinha metade dos “intelectuais” da USP, Uerj, UniCamp e UnB, e a maioria dos que escrevem em jornais – dando a primeira lição de aritmética: 2+2=4, e um Milhão não é a mesma coisa do que um Bilhão. E, logo em seguida, lecionar um pouco de história. Quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral cujo escriba logo a El Rey solicitou um emprego para o sobrinho.

Educar, lecionar, instruir, é assim que se salva o Brasil. Educar, do latim ex-duco, “conduzir para fora” da ignorância, da grosseria e das pretensões dos analfabetos. Governar é isso mesmo. Já tivemos um Presidente que quis fazer em cinco anos o que se faz em 50. Infelizmente, nunca elegemos um Presidente que prometesse num mandato de oito anos impingir oitenta anos de educação. Eu esperava isso do Lulinha. Lula é inteligente e esperto, porém mais precisa da disciplina do que qualquer outro. Talvez se convença do valor da cultura, pois ainda há tempo para isso.

* J. O. de Meira Penna é Diplomata, tendo ocupado vários cargos no exterior e chefiando sete embaixadas brasileiras. É também escritor e jornalista, com mais de 20 títulos publicados, como "Em Berço Esplêndido", "O Espírito das Revoluções", "O Dinossauro", "Opção Preferencial pela Riqueza" e "A Ideologia do Século XX".

Reproduzido do Instituto Liberal - RS

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