2 de set. de 2006

O Conto dos Biocombustíveis - por Christina Fontenelle

ApedeutaO presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio, recentemente, em rede nacional e por várias oportunidades, requerer para si e para seu governo a criação dos programas de desenvolvimento de biocombustíveis (http://www.pt.org.br/ - em Campanha de Lula e Horário Eleitoral) bem como a conseqüente descoberta do biodiesel. É mais ou menos como se, por exemplo, o presidente da Telemar saísse por aí dizendo que ele teria sido o criador do sistema de telefonia móvel no Brasil. Um absurdo! Eu não sei exatamente quais são os critérios do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em relação à veiculação de mentiras, mas essa propaganda presidencial de Lula é pior do que o que se conhece como propaganda enganosa, que é prometer resultados e desempenhos que não se pode cumprir nem oferecer – é mentir, é apropriação indébita, é não ter o mínimo de respeito sobre direitos autorais, é ter absoluta certeza da ignorância de quem assistirá à propaganda.

Como estamos no Brasil (mais especificamente no Brasil do PT), porém, o Tribunal Superior Eleitoral não se pronuncia, a oposição não se manifesta e nenhuma emissora de TV faz uma matéria sequer sobre esse tema. Ainda bem que na imprensa escrita e na Internet as coisas são um pouco diferentes... Por enquanto.

A história dos biocombustíveis no mundo e no Brasil data dos séculos XIX e XX, respectivamente. Foi durante a Exposição Mundial de Paris, em 1900, que se apresentou ao público um motor diesel (de injeção direta, sem pré-câmara) que funcionava com óleo de amendoim. Os primeiros motores tipo diesel eram de injeção indireta e alimentados por petróleo filtrado, óleos vegetais e até mesmo por óleos de peixe. Na verdade, Rudolf Diesel, o criador do combustível que levou seu nome, registrou a patente DRP 67207, em 23 de fevereiro de 1893. E mais, ele preconizou que em paises tropicais, com terra abundante e muito sol, haveria grandes programas para a produção de combustíveis vegetais, álcool e óleos de plantas nativas, para uso na propulsão de motores, e ainda previu o uso de aditivos corretores das qualidades ignitivas do combustível com gás, álcool e óleos vegetais.

A disseminação desses motores se deu na década de 50, por demonstrarem ser de rendimento muito maior e de baixo consumo de combustível. No Brasil, desde a década de 20, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) já estudava e testava combustíveis alternativos e renováveis. O pioneiro no uso de biocombustíveis foi o Conde Francisco de Matarazzo, cujas indústrias, já nos anos 60, buscavam produzir óleo através dos grãos de café. Naquela época, para lavar o café e retirar suas impurezas - impróprias para o consumo humano - foi usado o álcool da cana de açúcar. A reação entre o álcool e o óleo de café liberava glicerina, que resultava em éster etílico - produto que hoje é chamado de biodiesel. Também na década de 70, a Universidade Federal do Ceará (UFCE) desenvolveu pesquisas com o intuito de encontrar fontes alternativas de energia, em experiências que acabaram por revelar combustíveis originários de óleos vegetais e com propriedades semelhantes as do óleo diesel convencional – outra vez, o biodiesel.

A chamada crise do petróleo de 1972 foi uma das molas propulsoras das pesquisas realizadas na época. Em 1975, foi proposto o uso energético de óleos vegetais no Brasil, originando o Pró-óleo (Plano de Produção de Óleos Vegetais para Fins Energéticos). Seu objetivo era gerar um excedente de óleo vegetal capaz de tornar seus custos de produção competitivos com os do petróleo. Previa-se uma mistura de 30% de óleo vegetal no óleo diesel, com perspectivas para sua substituição integral em longo prazo. Com o envolvimento de outras instituições de pesquisas, da Petrobrás e do Ministério da Aeronáutica, foi criado o PRODIESEL em 1980. O combustível foi testado por fabricantes de veículos a diesel. A UFCE também desenvolveu o querosene vegetal de aviação para o Ministério da Aeronáutica. Após os testes em aviões a jato, o combustível foi homologado pelo Centro Técnico Aeroespacial. Em 1983, o Governo Federal, motivado pela alta nos preços de petróleo, lançou o Programa de Óleos Vegetais (OVEG), no qual foi testada a utilização de biodiesel e misturas combustíveis em veículos que percorreram mais de 1 milhão de quilômetros.

O Proálcool também foi implementado em 1975, mas, somente a partir de 1979, após o segundo choque do petróleo, é que o Brasil, de forma mais ousada, lançou a segunda fase do programa, com uma meta de produção de 7,7 bilhões de litros em cinco anos. Os financiamentos chegavam a cobrir até 80% do investimento fixo para destilarias à base de cana-de-açúcar e até 90% para destilarias envolvendo outras matérias-primas (mandioca, sorgo sacarino, babaçu, e outros). Na parte agrícola, os financiamentos chegavam a até 100% do valor do orçamento, respeitando os limites de 80% e de 60% dos valores da produção esperados. Hoje temos mais de 400 usinas produzindo há muitos anos.

Íntegra no Blog da Christina Fontenelle

Um comentário:

Saramar disse...

Steve, boa noite.
Assim como a Cristina, eu fico me perguntando se o Lula não deveria ser impedido de usar o horário eleitoral para divulgar mentiras, como essa do biocombustível.
Também, cadê a oposição que não representa contra ele?

Beijos