30 de set. de 2006

LIBERDADE: O ESPÍRITO DA COISA

Por Paulo G. M. Moura, cientista político

Entramos na reta final do primeiro turno. É a fase decisiva dessa eleição. Uma grande quantidade de eleitores começa a processar sua decisão de voto. Cresce o interesse pela propaganda política. Se as pesquisas estão certas, a possibilidade de um segundo turno é real. Serra surpreendeu indo ao segundo turno em 2002 quando muita gente já dava a vitória de Lula como certa no primeiro turno.

Nesse momento, todos os brasileiros que temem pelo futuro da democracia têm o dever de agir para evitar o mal maior. Está em jogo mais do que eleição de um candidato da oposição. Está em jogo o futuro da nação que queremos para nossos filhos. Desde 2002 estamos sendo governados por gente que, segundo o Ministério Público Federal, constitui uma quadrilha para assaltar os cofres públicos. A cada dia novos escândalos emergem. Os cidadãos de bem e com algum nível de educação e informação foram levados da indignação à perplexidade e da perplexidade à paralisia e à falsa sensação de impotência. A saturação da mídia com uma avalanche de escândalos foi o artifício usado para levar-nos à letargia entorpecente. A garantia da impunidade e o poder de dar continuidade aos crimes contra o patrimônio público é o prêmio dos corruptos.

Por mais de uma vez os inquilinos do poder tentaram calar seus críticos. Projetos de controle da produção cultural e cerceamento da liberdade de imprensa foram ensaiados e somente contidos pela reação da opinião pública. Está em curso nesse momento, a primeira fase de outra escalada autoritária já utilizada pelo governo dessas mesmas forças no RS. Trata-se da manipulação deliberada da Justiça, através do patrocínio de uma verdadeira indústria de processos contra jornalistas e intelectuais críticos do governo, na tentativa de calar as vozes discordantes e que ousam se levantar contra descalabro político e administrativo vigente.

A cultura do “rouba mas faz” não é novidade na política brasileira. Mas, até então, confinava-se numa dimensão menor e localizada do sistema político. A novidade é o tamanho da roubalheira e a auto-anistia aplicada pelo sindicato da corrupção, que, recorrendo a artifícios da processualística parlamentar e a acordos imorais entre governistas e oposicionistas de rabo preso, patrocinaram o escândalo de todos os escândalos: a impunidade do mais hediondo dos crimes; o roubo do dinheiro público cujo destino seria a educação, a segurança e a saúde da população carente desse país, a qual o governo populista e autoritário corrompe com a distribuição de esmolas.

A vitória eleitoral do comandante mor de todo esse processo de corrupção moral da nação, embute um prejuízo de implicações históricas incalculáveis. Trata-se do aval político, concedido pelo povo, nas urnas, à continuidade e ampliação do processo de degeneração moral das instituições, patrocinado pelas forças políticas no poder.

Por mais que se defenda a tese, correta, de que as urnas não substituem a Justiça - não nos iludamos - a força com que um governante autoritário e populista emerge das urnas, se ungido com uma vitória em primeiro turno, será usada com o aval para a perpetuação no poder e a legitimação fraudulenta da corrupção, tornada sustentáculo oficial do governo.

Boa parte do resultado das pesquisas que se observa desde o início da campanha eleitoral na mídia se deveu à ilusão convincente da propaganda do projeto “bolsa-família” ao qual, por razões auto-evidentes, chamo de “bolsa-esmola”. Corremos o risco real, fruto da manipulação da opinião pública pelos inquilinos do poder, auxiliados por seus aliados na imprensa e pela incompetência e conivência das forças que deveriam lhes opor resistência e oposição, de ver perpetuarem-se no governo, indivíduos amorais e descomprometidos com a defesa da liberdade e da democracia.

Sinto-me um órfão sem representação política em quaisquer dos partidos existentes no país. Meu voto para presidente será destinado a um dos concorrentes da oposição, por falta de opção melhor. Considero-me um cidadão relativamente bem informado. Até onde sei, esse senhor em quem vou votar é moralmente íntegro; administrador competente e defensor da liberdade, da democracia e da redução dos impostos que alimentam a máquina de clientelismo e da corrupção que se instalou de forma generalizada na gestão pública brasileira.

Mas esse á uma decisão que cada um deve tomar segundo sua consciência. Não escrevo essas linhas para convencer meus leitores a votar no candidato que me parece o melhor ante as circunstâncias. Escrevo para apelar aos cidadãos de bem desse país. Falo para todos aqueles que desejam uma nação na qual a corrupção seja punida com a mesma Justiça que se devem punir os crimes hediondos. Na qual a manipulação da ignorância seja punida pelo voto. Na qual os patrocinadores de gerações de escravos políticos (miseráveis e eternos dependentes de esmola governamental), e vilipendiadores da liberdade e dos melhores valores morais sobre os quais se erigiu e civilização ocidental, sejam alijados do poder pelos mecanismos legais da democracia.

Parem para pensar! Será a perpetuação no poder desse descalabro o que desejamos para nós e para nossos filhos? Não posso acreditar que a nossa passividade se tornará co-responsável por isso tudo. Se você ainda tem alguma dúvida, dê a si mesmo a oportunidade de refletir. Ofereça-se a oportunidade de um segundo turno nessa eleição presidencial. Não anule seu voto. As cadeiras do poder que os corruptos, amorais e autoritários ocupam, não ficarão vagas por causa de sua atitude. Vote em alguém. Em qualquer um, menos em mensaleiros; menos em sanguessugas. Menos no chefe de todos eles!

Se você, como eu, sente-se órfão de representação política, saiba que nada me atormenta mais nesse momento que esse sentimento de indignação e quase impotência ante uma realidade tão adversa. Olho para meus filhos inocentes - um deles já é eleitor - e tenho vontade de chorar. Mas eu disse quase impotência.


No dia 1º de outubro, no sagrado momento da democracia em que todo o poder e a liberdade de escolha repousam nas mãos de cada um de nós, no silêncio solitário da urna, a decisão de tentar mudar tudo o que aí está, ou de deixar tudo com está, estará ao alcance das mãos e da consciência de cada um de nós.

Acorda! Levanta! Vai para rua! Lembre-se dos valores morais que você aprendeu com seus pais e que ensina a seus filhos. Defenda a liberdade e a democracia. Vale a pena!

Se você encontrar pela frente um eleitor dele, peça-lhe para mudar o voto. Se for o caso, diga-lhe que ele pode confirmar a intenção de voto no segundo turno. Convença seus amigos; colegas de trabalho; vizinhos, a acreditar que é possível mudar. Nós fizemos isso no referendo das armas. Contra todas as pesquisas, nós votamos em defesa da liberdade de escolha! E vencemos! Convença todos que você puder, a votar pela garantia de um segundo turno. Nem que seja apenas para termos a oportunidade de refletir e avaliar melhor, se a continuidade do que está aí é o que realmente queremos para nossa nação. Vale votar em qualquer um; repito, menos neles! Menos nele!

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