30 de jul. de 2006

Roberto Romano responde a Lillian Wite Fibe

Um escândalo atrás do outro: como isso afeta o eleitor? Roberto Romano comenta:

É corrupção para tudo quanto é lado. Só para falar das mais recentes: Sanguessugas (roubo de dinheiro público que deveria ser usado na compra de ambulâncias), Operação Cerol (policiais federais e executivos de empresas presos no Rio na sexta-feira) e Operação Mão de Obra, que é a de hoje e está "rolando" em Brasília. Foram presos empresários e funcionários públicos acusados... adivinhe do quê? Acertou: de roubar dinheiro público. A Polícia Federal diz ter descoberto fraudes em licitações com empresas que se candidatam a limpar e a fazer a segurança de prédios públicos e prendeu até um funcionário da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin. A polícia diz que encontrou roubalheira nos Ministérios dos Transportes e da Justiça, no Senado e no Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Não sobra ninguém?

"A corrupção virou rotina no país", disse o cientista político, Roberto Romano, em entrevista a Lillian Witte Fibe, no UOL News. E para ele, esta prática rotineira pode representar perigo para a democracia brasileira, que não vai "se agüentar" com tantas fraudes dentro da própria estrutura da vida pública. "Esse é um ponto que me preocupa; eu fico cada vez mais acabrunhado com esse país, porque não há os contra exemplos, uma tentativa de apresentar outros caminhos para atenuar este fenômeno", lamentou. "O meu avô dizia que na França o ridículo mata e no Brasil, engorda".

O presidente e a corrupção

Segundo o cientista político, quando o presidente da República diz que "não viu, não sabe e não conhece", ele passa a impressão de que não há nenhum responsável e ninguém que controle esse governo. "Você dá muito poder ao presidente da República e ele quer viver com a irresponsabilidade do imperador", indignou-se. Romano disse ainda que um grande mal da República brasileira é que só quando se consegue provar a corrupção por A+B é que o presidente passa a ser responsabilizando, citando o caso da perua Elba presenteada ao ex-presidente Fernando Collor e um dos estopins do seu Impeachment. "O presidente da República tem que saber, ele não pode não saber", protestou.

Para ele, a oposição também não fez o seu papel exigindo uma prestação de contas ou até mesmo o Impeachment do presidente Lula. "No momento em que o presidente da República veio a público, naquela patética entrevista (em Paris) em que ele olhava para cima, com jeito de menino arrependido, e disse que pedia desculpas, mas sem saber muito bem porque", lembrou. "O presidente que não sabe é irresponsável porque, se ele é responsável, tem que responder. Está na Constituição: 'o presidente da República é responsável pelas ações do Governo, etc'". Romano falou ainda sobre as recentes acusações aos ex-ministros da Saúde do governo Lula, Humberto Costa (PT-PE) e Saraiva Felipe (PMDB-MG), no desvio de recursos públicos na compra de ambulâncias superfaturadas.

O cientista político comparou a atitude de alguns políticos brasileiros a do gambá, que quando se sente ameaçado lança aquele "perfume" em cima dos outros para escapar. "A pessoa só precisa responder que sim ou que não, no entanto ela só diz que vai processar. Isso não é modo de responder, ele deveria dizer: 'está aqui a minha gestão e eu sei de tudo o que ocorreu; o que ocorreu sem o meu conhecimento é da responsabilidade de tal e tal pessoa e dane-se quem é culpado, eu não sou". Romano citou ainda a entrevista em que o presidente Lula dizia que fazer caixa 2 era comum e que todo mundo fazia. "Se ele diz que não pode condenar ninguém e que a CPI dos Correios torturou os coitados dos depoentes, ele quer dizer que Delúbio Soares e Marcos Valério foram torturados pelos maldosos deputados da CPI; e se ele disse isso - e a gente não está inventando - o que se pode deduzir é que todos os 180 milhões de brasileiros são corruptos e o PT ainda pode receber o epíteto de grande partido da ética", indignou-se mais uma vez.

Recomendações ao eleitor

E com toda esta corrupção, como o eleitor deve vai votar em outubro? O que ainda é possível fazer neste período eleitoral? Romano questionou a eficácia do voto nulo - que para ele é como um protesto mudo - e recomendou que os eleitores comecem a participar dos comícios políticos, principalmente dos candidatos mensaleiros, "absolvidos" pela Câmara dos Deputados, "e lá, diante do povo, questionem sua atuação e peçam explicações", incentivou. O cientista político lembrou que em Roma, os comícios eram lugares para debates entre os candidatos e o povo. "A origem da palavra candidato vem de cândido, de roupa limpa, alva. O candidato precisava provar que sua roupa era limpa, e a alma também. Esta é a idéia de um sujeito que postula um cargo público, ele precisa estar alvo."

2 comentários:

Anônimo disse...

DEVERIA EXPLICAR TB SOBRE RESPONSABILIDADE, INCONSEQUENCIA, ETICA E ISENÇÃO NA INFORMAÇÃO.

Anônimo disse...

O pior é que a corrupção vai aumentar se elegerem alguem do PSDB e do PFL.

Isto é o pior.