26 de jul. de 2006

Proselitismo Compulsório - por Rodrigo Constantino

Em meu último artigo, Justificando o Injustificável, mostrei que sou forçado a bancar um grupo de sindicalistas que fica pregando o socialismo de forma escancarada – com o dinheiro dos outros. Neste artigo, pretendo mostrar que o leitor, mesmo não sendo um economista carioca, também é obrigado a contribuir na propagação de idéias estapafúrdias e retrógradas. Não sou a única vítima. A corja de parasitas espertos se alastrou como “gremlins”, alojando-se em tudo que é lugar e contando sempre com uma “mãozinha” do “papai” Estado.

O Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento divulgou, durante um seminário realizado no BNDES, uma carta para todos os candidatos à Presidência pedindo mudança no modelo econômico e uma democracia mais “participativa” – eufemismo para concentração de poder no Estado. Segundo a carta, há uma crise da “hegemonia neoliberal” (sic) que abre espaço para a retomada do desenvolvimento. Para essa turma, o “neoliberalismo” leva a um “revigoramento do individualismo darwinista”. Em outro trecho da carta, critica-se a autonomia do Banco Central, uma realidade em todo país desenvolvido, inclusive com total independência da entidade – o que não ocorre aqui.

O presidente do Centro Internacional Celso Furtado é o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, quem assinou a tal carta ao lado de Maria da Conceição Tavares e da viúva de Celso Furtado. Belluzzo faria mais pelo país se limitasse seus comentários ao tema futebolístico. Não sei se são bons ou não, mas com certeza não afetam negativamente a vida de milhões de brasileiros – ao contrário de suas idéias econômicas. Conceição Tavares é aquela que chorou de alegria na concepção do Plano Cruzado. Por mais que me esforce, não consigo lembrar de uma única idéia correta que Conceição tenha defendido no passado. Celso Furtado, para um economista, até que era um razoável historiador. Foi o criador da Sudene, o que dispensa comentários, e participou da elaboração do Plano de Metas do governo JK, que forçou um crescimento econômico artificial levando a um rombo dos cofres públicos e galopante inflação posterior. Foi alçado ao patamar de ídolo nacional, assim como Paulo Coelho. Essa turma sempre esteve fortemente ligada à Cepal, escola “desenvolvimentista” influenciada pelos socialistas fabianos. A Cepal nunca esteve do lado certo na defesa de reformas econômicas. Seus adeptos são idólatras do fracasso. Consideram que o Estado deve ser o grande motor do desenvolvimento da nação. Ignoram todas as evidências empíricas e argumentações lógicas que provam o contrário. Mas a simbiose entre intelectuais e Estado costuma render bons frutos para ambos os lados. O povo paga a conta.

No manifesto do lançamento do Centro Celso Furtado, consta que “a visão dominante decretou a morte dos projetos nacionais de desenvolvimento e entregou o destino dos povos da periferia do capitalismo às incertezas e azares das forças de mercado”. Curiosamente, foram justamente os países periféricos que respeitaram as “forças de mercado” e a lógica capitalista que prosperaram mais, enquanto países que usaram o Estado como locomotiva para desenvolvimento econômico, ignorando o mercado, ficaram para trás. Basta comparar uma Venezuela do “amigo” Chávez, mesmo com todo o seu “ouro negro”, com uma Coréia do Sul ou Cingapura. O manifesto segue, afirmando que “a lógica da acumulação privada da riqueza não pode preencher as exigências de um período duradouro e mais igualitário de desenvolvimento”. Deve ser por isso que os Estados Unidos são tão miseráveis, enquanto Cuba é um paraíso terrestre! A lógica e os fatos nunca fizeram parte das crenças dessa turma, guiada somente na base da fé dogmática.

O Centro Internacional Celso Furtado foi proposto pelo presidente Lula. No seu lançamento, esteve presente o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, grande entusiasta do MST. O responsável pela Comissão de Organização do Centro é Luiz Dulci, Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. O BNDES é a primeira das instituições fundadoras do Centro. Lula declarou que seu governo “está disposto a prestar todo o apoio para construir uma fundação internacional de estudos e pesquisas com esses propósitos” de combate à fome, à pobreza e aos gargalos do desenvolvimento. Entretanto, as idéias defendidas pelo Centro Internacional Celso Furtado, financiadas em boa parte com dinheiro público, caminham na contramão da solução desses problemas. Na verdade, tais políticas “desenvolvimentistas”, que acompanham o Brasil há décadas, são justamente as responsáveis pelos nossos males. O tal “neoliberalismo”, que eles culpam até mesmo pela dor de dente de alguém, é apenas um fantasma da mitologia canhota. Infelizmente, nunca chegou perto do Brasil. Nem de raspão!

Pois é, caro leitor. Como você pode ver, não sou o único que tem que sustentar parasitas que ainda por cima usam o nosso próprio dinheiro para disseminar idéias ridículas que nos prejudicam mais ainda, engordando apenas os parasitas. Todos que pagam impostos – escorchantes impostos – estão ajudando, compulsoriamente, tais parasitas, que usam o dinheiro dos outros para criticar o dinheiro dos outros. Fazemos todos proselitismo compulsório. Bem-vindo ao time. It’s sad, but true!


Com autorização do Rodrigo Constantino

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