12 de jul. de 2006

NOSSO IMPERADOR – NERO? - por Ralph J. Hofmann

O Ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia abertamente, publicamente, em entrevistas à imprensa, expõe uma situação em que, segundo ele, a Petrobras não poderá resistir suas exigências de um aumento de 100% sobre o valor do gás importado da Bolívia. Vincula inclusive a necessidade política do Presidente Lula de evitar uma falta de gás num ano de eleições.

Poderíamos comparar as atitudes dos bolivianos para com o Brasil como se fossemos jogadores de futebol de várzea num campo de terra em dia de chuva. Tendo derrubado um jogador inimigo, a Bolívia passa a esfregar a cara do oponente numa poça barrenta e gosmenta.

Onde estão os brios do Brasil numa hora dessas? Jogador de pelada que se preza revida com uma joelhada na virilha. E se o juiz interferir, leva também.

Mas e o Brasil? Fica discutindo um empréstimo do BNDES para obras na Bolívia.

Adicione-se a isso o fato de que o filho de um deputado boliviano, o Sr. Herbas Camacho, hoje está refestelado numa prisão de máxima segurança no Brasil, preso e condenado por narcotráfico, ditando condições a governantes brasileiros enquanto seus comandados cometem atos de terror contra as famílias de policiais e guardas.

Para bom entendedor, meia palavra basta. O principal banco de fomento do país está financiando a Bolívia, que oficiosamente entrou em guerra com o Brasil. Acumulam-se nos institutos médico legais os cadáveres de vítimas desta guerra, portanto não é uma guerra de setas de papel atiradas com atilhos de borracha. É uma guerra total, indiscriminada, pois atinge civis em ônibus e filhos desarmados dos combatentes.

Na impossibilidade de invadir o país vizinho, dadas as convenções sociais que tantos séculos nos levaram para alcançar, assim como na falta de empenho das autoridades brasileiras em simplesmente isolar completamente os negociadores dos bandidos que hoje agem como se fossem ministros de uma nação, creio que existe uma perspectiva de uma nova chacina de Carandirú. Afora isto parece improvável que as forças policiais e agentes penitenciários confiem em que sentenças do judiciário venham a coibir uma situação em que seus colegas não morrem em confrontos normais de bandidos flagrados atirando em policiais para fugir, senão um quadro em que agentes da lei são ativamente caçados em seus horários de lazer com perigo às suas famílias.

Neste momento os policiais têm duas alternativas. Vender seus serviços de corpo e alma aos criminosos ou reagir com violência. Os policiais que passem ao ataque estarão agindo contra a lei, mas com o aplauso da população. Ante o volume atual de ataques, terão perdido qualquer respeito pelas normas que juraram defender, pois em última instância são eles que estão sendo mortos no cumprimento da lei, enquanto a lei mantém vivos e poderosos seus algozes. Nessa altura a regra mais forte passa a ser a Pena de Talião.

Mas, no que diz respeito ao Ministro Solis, da Bolívia, se o preço do gás passar a curto prazo de US$ 3,80 para US$ 7,00 (ou mais), segundo seu discurso, cabe ao Brasil ou à Petrobras neste momento buscar gás no mundo mesmo que seja a US$ 9,00, e encerrar unilateralmente, imediatamente as compras da Bolívia. Que o Ministro Solis venda tudo para o Chávez. A Venezuela não tem como consumir tanto de uma hora para outra. Seria mais dinheiro a fundo perdido na Bolívia.

Nos tempos das vendas com ágio no Brasil, nos anos 80, os fornecedores de certos produtos siderúrgicos colocaram a indústria de fundição contra a parede com a cobrança de ágios altíssimos. A empresa à qual eu pertencia, que tinha direito a importar matérias primas em “drawback”, na impossibilidade de um acordo razoável importou de um fabricante no exterior um estoque de vários meses, e colocou sua fonte do produto às ordens de todos os filiados à associação que congrega as fundições. Em dois meses o ágio, que representava milhões de dólares, desapareceu deste setor.

Os problemas de suprimentos energéticos são idênticos ao problema comercial acima. Na ocasião optamos por gastar o que fosse necessário, mas não nos curvarmos ante uma chantagem.

Antes de sair pelo mundo vendendo uma experiência incipiente de biodiesel, nosso governo deveria estar correndo mundo para acertar compras de gás para isolar a Bolívia. Deveria estar abrindo processos de perdas e danos contra a Bolívia por denúncia unilateral de um projeto de longa data.

É absurdo. Um país vizinho está em guerra, econômica e física contra nós. E nós agimos como se nada houvesse.

Lula tem sido chamado de 51 e outros apelidos. Mas hoje ele lembra o Imperador Nero. Toca harpa ou violino enquanto Roma arde em chamas.

Com autorização do Ralph J. Hofmann

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