13 de mar. de 2006

QUE VERGONHA!

por Percival Puggina, escritor - publicado no Diego Casagrande 13/03/2006

Há alguns dias, em artigo com o título “São duras estas palavras”, registrei um conjunto de evidências de que estamos nos tornando, com exceções, claro, um país de ladrões.
O fenômeno, longe de ser recente, é causa e não conseqüência dos valeriodutos. Rouba-se tudo. Somos roubados por larápios visíveis e invisíveis, pelo crime organizado e pelo crime desorganizado. Somos roubados até sem saber, em circunstâncias tão variadas que não há espaço aqui para descrever. As consciências deformaram-se a tal ponto que as pessoas roubam sem perceber que estão roubando. Ocupamos, por isso, um vergonhoso 62º lugar no ranking da Transparência Internacional, com a ínfima nota 3,7 num índice cujo máximo é 10.

Não podemos nos surpreender, portanto, quando acordos celebrados por nossos congressistas concedem alvará de soltura para deputados condenados pela Comissão de Ética. A política jamais será – constituiria imensa ingenuidade supor que pudesse ser – um estuário de pessoas probas num país tomado pelos destituídos de caráter. Anos atrás, eu assisti a cena, um caminhão carregado com Nescafé tombou à margem da auto-estrada Porto Alegre-Osório. Houve um brutal congestionamento nos dois sentidos da rodovia porque os automóveis paravam e seus ocupantes desciam para roubar o que pudessem da carga derramada sobre o acostamento. Em setembro, sete mil frangos vivos caíram de um caminhão na avenida Sarmento Leite. Será preciso descrever a conduta dos transeuntes? Ano passado, quando se debatia o tema do referendo que desarmaria apenas as pessoas de bem, era comum ouvir-se: “Mas o que é uma pessoa de bem?” Já não sabemos mais. Quando me apareceram com essa num debate eu perguntei: “Nem olhando no espelho?”

Fosse orientada por mais elevados padrões morais, perante a infindável sucessão de escândalos que ocuparam o noticiário dos últimos meses, a sociedade daria aos partidos e personalidades implicados uma resposta institucional e eleitoral arrasadora. No início deste mês, na cidade uruguaia de Rivera, chegou ao conhecimento da justiça a informação de que estavam ocorrendo acréscimos indevidos nas prestações de contas das despesas de viagem dos ediles (vereadores). Em poucos dias, 21 dos 31 membros do parlamento local estavam na cadeia, condenados em rito sumário por um juiz que trabalhou sábado e domingo, realizando as audiências, e despachando os aproveitadores para o lugar merecido. Você sabe de alguém preso no Brasil, apesar das filmagens, gravações e confissões que se amontoam nos arquivos da imprensa?

Mais ainda. Fôssemos animados por princípios e valores elevados, nunca uma pesquisa eleitoral poderia manter o presidente da República na posição que hoje ocupa nas preferências nacionais. Nunca! Talvez seja essa a mais clara expressão da vergonhosa crise moral que assola o país.

5 comentários:

Anônimo disse...

Tony, boa noite.
Uma coincidência que esteja aqui, ao mesmo tempo em que está lá.
Eu sei que estamos todos chocados, mas o momento não é de dispersão, pelo contrário. Agora é que temos que unir nossas forças porque a luta será muito mais difícil do que pensamos. Creio que devemos refletir longamente sobre os caminhos que iremos percorrer, sempre lembrando que o objetivo é defenestrar o candidato-presidente.
Beijos

Unknown disse...

Tudo isso é muito triste, mas o importante é que estamos na luta!

Abs,

Vinicius S Factum
Tenho uma pergunta que merece sua resposta: É sobre o Dia do Consumidor! Antes, quero que conheça a história de Xu Jinglei, que com determinação e paixão, transformou seu Blog em um dos mais visitados do mundo. Vale a pena!

Unknown disse...

Ná tá fácil!

Bom final de semana!

Unknown disse...

Tony,

É triste, mas verdadeiro, existem pessoas da pagando para roubarem seu próprio carro para receber o seguro, pelo que me parece essas pessoas não são necessitadas, são ladras mesmo, mas num país onde uma pessoa passa 1 ano e meio na prisão por roubar um vidro de xampu, 4 meses de cadeia por roubar 1 pote de margarina e pessoas que roubam milhões continuam livres e protegidas por hábeas corpus e tudo o mais, não dá para esperar que o povo acredite na justiça e seja honesto.
Eu acho que temos que resistir fazendo a nossa parte, para podermos convencer os outros que: O meu é meu e o do outro é do outro, seja quem for o outro. Só assim mantenho os meus direitos. As pessoas não se sentem respeitadas por isso não respeitam. Fica nesse circulo vicioso.


Bom domingo
Beijo

Nat disse...

Ignorância e desinformação. Uma mistura sempre perigosa!